Nullius: Revista de pensamiento crítico en el ámbito del Derecho

e-ISSN 2737-6125
Joana Stelzer & Lucilaine Ignacio da Silva
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Abya Yala, hoje América, todas emergem do mesmo paradigma que é conceber a vida de
forma comunitária.
[...] as nações aymara e quéchua concebem que tudo vem de duas fontes: Pachakama
ou Pachatata (pai cosmos, energia ou força cósmica) e Pachamama (Mãe Terra, energia
ou força telúrica), que geram toda forma de existência. Se não reconstituirmos o sagrado
em equilíbrio (Chacha Warmi, Homem Mulher), o espiritual em nossa vida cotidiana,
definitivamente não teremos mudado muito e não teremos a possibilidade de realizar
nenhuma mudança real na vida prática. (Grifos no original). (HUANACUNI MAMANI,
2010, p. 30)
Como conceito plural e em construção, Acosta (2016, p. 15) assegura que o Bem
Viver se afirma na harmonia e na convivência entre os seres, ou seja, indivíduo, sociedade
e planeta. Portanto, como conceito em construção, o Bem Viver refere-se:
[...] à vida em pequena escala, sustentável e equilibrada, como meio necessário para
garantir uma vida digna para todos e a própria sobrevivência da espécie humana e do
planeta.
O

fundamento

são

as

relações

de

produção

autônomas,

renováveis

e
autossuficientes. O Bem Viver também se expressa na articulação política da vida, no
fortalecimento
de

relações

comunitárias

e

solidárias,

assembleias

circulares,

espaços
comuns de sociabilização, parques, jardins e hortas urbanas, cooperativas de produção
e consumo consciente, comércio justo, trabalho colaborativo e nas mais diversas formas
do viver coletivo, com diversidade e respeito ao próximo.
Entretanto,
para
compreender
o
conceito
plural
do
Bem
Viver
e
consequentemente as possibilidades de sua aplicação, faz-se necessário debater sobre sua
origem e fases intensas de preparação. A essa tarefa empreende-se recorrer às visões, às
experiências e às propostas de povos de dentro e de fora do mundo andino e amazônico.
Povos que se empenharam em viver em harmonia com a natureza, cuja história ainda é
desconhecida
e

marginalizada.

Trata-se

de

povos

que,

a

seu

modo,

combateram

um
colonialismo resistente, que perdura por mais de quinhentos anos. Essa resistência possui
seu
valor

e

necessita

ser

redescoberta,

haja

vista

o

fracasso

dos

projetos

‘ocidentais’,
segundo conceitos de crescimento econômico exponencial sem limites.
David
Choquehuanca

(2010),

intelectual

aymara

sustenta

que

o

Bem

Viver
recupera
a

harmonia

da

vida

com

a

mãe

natureza,

com

o

respeito

mútuo

com

a
Pachamama porque ‘somos parte dessa natureza’, não há nada separado, ‘somos todos
um’
(grifo

nosso).

Do

mesmo

modo,

Acosta

e

Gudynas

(2011),

salientam

que

para
construir o conceito de Bem Viver, há que se considerar pelo menos três planos na sua
abordagem: as ideias, os discursos e as práticas. No que diz respeito às ideias, encontram-