Nullius: Revista de pensamiento crítico en el ámbito del Derecho
e-ISSN 2737-6125
Joana Stelzer & Lucilaine Ignacio da Silva
71
práticas e experiências de civilizações, sobretudo
Runa/Jaqi, aqui especificamente nos
Andes e na Amazônia. Trata-se de “[...] um processo proveniente da matriz comunitária
de povos que vivem em harmonia com a Natureza.” (ACOSTA, 2016, p. 24), que vem
demonstrando capacidade de enfrentar a Modernidade colonial.
Para Quijano (2017, p. 2), “[...] o colonialismo nomeia a lógica subjacente da
fundação e do desdobramento da civilização ocidental desde o Renascimento até hoje, da
qual colonialismos históricos têm sido uma dimensão constituinte, embora minimizada.”
O autor assim enfatiza que a tese básica do discurso tal como foi especificado, é de que
“[...] a ‘modernidade’ é uma narrativa complexa, cujo ponto de origem foi a Europa, uma
narrativa
esconde, ao mesmo tempo, o seu lado mais escuro, a ‘colonialidade’ (QUIJANO, 2017,
p. 2).
Com suas bases cristalizadas nas constituições do Equador, aprovada em 2008
e, na Bolívia em 2009, o Bem Viver e/ou o Viver bem respectivamente, estão vinculados
diretamente aos saberes e tradições indígenas. Xavier Albó (2009), entusiasta e defensor
das ideias do Bem Viver, sustenta que a melhor interpretação desse é concebê-lo como a
vida boa em comunidade, ou melhor, um bom conviver. É uma ideia de vida vinculada
tanto a componentes materiais como afetivos, mas que não deve significar viver melhor
à custa de outros ou do ambiente.
A respeito da construção do Bem Viver, como conceito plural, que advém de
várias
vezes se recorre às ideias de multiculturalismo, pluriculturalidade e intercult uralidade.
Contudo, o autor adianta que seguir o caminho das ideias do multiculturalismo ou da
pluriculturalidade pode não ser o mais adequado. Ainda segundo o autor, no primeiro, o
Bem Viver estaria sujeito a reduzir-se a seguir mantendo o estilo de desenvolvimento
dominante,
naturais a locais muito específicos, como uma área proteção indígena. No segundo caso,
o pluriculturalismo, pelo fato desse pressupor que todas as culturas estariam num mesmo
plano de igualdade, o autor entende que para os latino-americanos haveria pouca defesa.
Significariam, em ambos, enclaves culturais e limitado poder político.
A construção do Bem-Viver implica um duplo processo: por um lado, descolonizar o
saber para desvencilhar-se da superioridade ocidental. Por outro, respeitar a diversidade
das