Nullius: Revista de pensamiento crítico en el ámbito del Derecho

e-ISSN 2737-6125
Joana Stelzer & Lucilaine Ignacio da Silva
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fundamento
ético

estimula

o

diálogo

de

saberes

e

provoca

mudanças

profundas

que
despertam um novo compromisso com a vida em grande escala, a vida do planeta. De
matriz
comunitária,

o

Bem

Viver

sintetiza

seus

valores

e

introduz

um

Estado
Plurinacional desatado das tradições eurocêntricas e comprometido com a superação das
desigualdades,
da

decolonização

e

do

reconhecimento

da

natureza

como

sujeito

de
direitos.
O Bem Viver tensiona com os conceitos ocidentais quando estimula a reflexão
de
questões

como

o

mercantilismo

exacerbado,

o

consumismo

desenfreado,

o
desenvolvimento sustentável, o desemprego e o trabalho precário, a desigualdade social,
a superioridade dos colonizadores que vem de décadas e desqualifica os conhecimentos
dos povos ameríndios.
Por ser um conceito plural e em construção, o Bem Viver dialoga com outras
partes do mundo, não se limitando à sua origem. A partir dele, imagina-se outros mundos
possíveis de “Nosso Futuro Comum”, a partir da complexa tarefa que é “[...] aprender
desaprendendo, para aprender e reaprender ao mesmo tempo” e quem sabe, construir
2
uma nova história, pautada no conhecimento dos povos originários.
Passa-se
a

evidenciar,

portanto,

parâmetros

comuns

à

formação

de

uma
Sociedade Decente a partir da concepção do Bem Viver entre os povos andinos
3
como
alternativa ecocêntrica ao conceito de Trabalho Decente. Como lembra Chinoy (2012, p.
626), “[...] o indivíduo também aprende a ser sensível aos juízos e expectativas dos outros,
que servem, direta e continuadamente, como instrumentos de controle social.” Trata-se
de um processo social acumulado, com interpretações, reflexões e questionamentos sobre
seu alcance.
não se trata de entidades ‘livres de valor’, “[...] mas de pessoas que representam, por sua condição de
sujeitos concretos e sua situação socioeconômica, um valor além do puramente estético.” E, mais, “Frente
a indiferença ética do ser humano pós-moderno do chamado ‘Primeiro Mundo’, os colonos e os habitantes
da
periferia

devem

insistir

na

‘diferença

ética’',

que

também

é

expressa

em

termos

culturais

(ou
filosóficos).” (ESTERMANN, 2006, p. 53).
2

Argumento

de

Nina

Pacari

(apud

ACOSTA,

2016,

p.

158)

referindo-se

à tarefa

do

Buen

Vivir

que

é
complexa
e

difícil,

e

exigirá

cada

vez

mais

democracias

que

incluam

populações

historicamente
marginalizadas.
3
“O termo ‘andino’ também se refere a uma categoria étnica, falando do ‘ser humano andino’ ou do ‘povo
Andino’. Essa característica não se refere apenas a uma ‘raça pura’ pré-hispânica, mas ao ser humano que
se sente identificado e enraizado no campo geográfico, social e cultural andino.” (ESTERMANN, 2006,
p. 61).